sexta-feira, 18 de junho de 2010

Margaridas Infratoras

Queridas pulsações embrulhadas: venho, por meio desta, pedir que o pato espere por mais cinco minutos antes que eu nasça e que passe o tempo a encarniçar o seu topete fino até lá. Beijos quase retos presos tortos entoam sibilos. A história de minha chaga lateja aberta uma força, os parafusos comedores entram sanguíneos e esfoliantes do mal. Para minhas cores, arco-íris se acinzenta sereno. É uma cicatriz muito fina pele, mas há ferida, suplantada em corte calado; gritou um dia fundo. Doía, um pus mirabolante, eu me lembro que doía, em algum lugar na intensidade da marca doía. Água fria no coração inflamado o guardou em sopro soprado na ponta aguça do nariz. O osso de meu parto somente trinca uma de suas vértebras na perna direita da letra segunda do balão: estoura assônico. Há um gambá explodido ecoando. Você já sentiu um gambá? Hoje creio que o machucado foi seriamente comprometido pelo meu estado autóctone de desempolgação. Alguma sinapse medonha não se estabeleceu, as mãos não se deram. E aquele pedacinho consagrado é a vida toda porcaria. Um furo estuprado pelos dedos de lava radioativa. Cutuca por dentre os revólveres do voo rasante do tropeço da marca côncava. Mas de onde o pulmão respira tanto! Não chupe a casca da ferida de minhas unhas, elas estão molhadas e se derreterão na ferocidade de sua sucção. Aqui não se permitem as veias correndo. Eu caio do segundo parágrafo, ou do segundo andar? Eu deveria ser eliminado dessa literatura. Um balbuciar não conta na dobra da quebra de meu fracasso. Intimamente, há um destoamento se operando secreto, o aquário se rompe: surda borbulha. Sente? Desejo que volte ao estado primário das relações e tudo se compadeça perante as minhas frivolidades iniciais. E o que dizer dos filhotes frutíferos? E da correnteza sem água e entulho? E essa jaula que me atinge forte feito uma ereção. Um grito. É uma escreveção só do coração sem porta.

Um comentário:

  1. Há uma espécie de espinhez cactual em sua escrita,.
    realmente,há.
    Esse caráter espetado (que só aparece na melhor poesia, na de um Bandeira e na de um Gullar, por exemplo) e, raramente, na prosa, só na de Clarice e na de Caio F. Abreu que eu me lembre.
    Gosto muito deste efeito de anticircularidade.
    Que grande literata vc é, Senhorita Flávia.

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