segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sobre um acontecimento faiscante

A todos é chegado o dia de uma calar de bocas triunfante. O dia em que se lhes pergunta a respeito da entre - intermitência de um punhado de luzes piscantes. O que pode um atravessamento? O que pode embrenhar-se por entre as pregas dos lábios a serem pintados, em câmera lenta de sensações? O que cabe a uma existência executar, se não o desejo patológico de que as coisas lhe invadam em velocidade tão flamejante a ponto de todos os corações se aproximarem rapidamente do fim. A vida são os tremores que se ouvem bem de perto dos alimentos triturados; de dentro do carnaval que se opera lá dentro. Há uma cachoeira rara que nos afoga, depois de que se superdimensiona o pingo da saliva passando. De dentro para fora, respiração é ventania. No meio, é chegado o lugar desde o qual se participam do conjunto das frestas, desde o qual se convertem em ponto máximo da congruência de todas as mensagens transmitidas. Em estado de alta captação, há antenas espalhadas para a linguagem de todos os transtornados; há torres aconchegantes para todas as percepções equivocadas, para todos os dizeres e mandares esquizóides, para tudo o que ainda não se pronunciou, mas que se deitará levemente sobre o dorso de um fio chocante. Aos olhos desapegados, se desvelará um enorme fragmento manchado que às suas decisões comprometerá. Há uma hipnose generalizada, uma nuvem emudecedora que aos menos sinestésicos acompanha, e que às torres cobre. Será preciso que um dentifrício enorme seja depositado sobre os ceguetas de coração firme até que a mácula seja sanada de suas visões, para que o contato que não se apalpa entre as conexões se estabeleça e que toda a ordem entre o intuito do estalar de dedos e o estalo de dedos seja necessariamente estabelecida. Uma faísca acontece.