segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O sono de dentro para fora Ou O adormecimento inglório

Mas ao passo que a pélvis e o colo e o dorso se confraternizavam, Cinderela-pequena ia à festa sem ser convidada. Um doce coração se alvoroçava para fora do ovo de dentro das calmas. Eu vi um órgão central pulsante, porém incabível. Eu vi um órgão inicial saindo do meu corpo harmônico deitado. Eu vi dois olhos amontoados franzindo a minha áurea já franzida. É uma pena que o mais forte de dentro de mim, habitara foragido. Meus ritos arroxeados necessitando de remédios. Um sopro inaugural e invicto e majestoso. A dor intempestiva de um amor negado. É precípua uma causa propulsora que me vomite. Foi tudo um vômito jorrado. Foi tudo fruto de um desejo esticado de que o enjoo passasse manso, manso. Interrompa-me o antes possível de que palavras de amor acontecendo sejam flechadas. Pare-me antes que eu procrie uma série de cupidos vingativos. Fala-se de uma sensação confeccionada em auto-prova-contra-mim. Um príncipe autóctone vive. Bem aqui onde o sol bate e faz a curva de um sonho. Bem aqui. Um seio que relincha: coma-me, antes que acabe. À vida que inadapta-se do mesmo modo que dois pneumáticos se incongruem em favor de um mesmo auto: reto e torto, pois vez ou outra, as carcaças se tremelicam e o contato com a terra é vacilante, suspensivo. Freio de mão mole. Cavalinhos desorientados. Eu preciso de um galope verdejante e da lucidez de como os diálogos são circunscritos mundialmente. Trata-se de uma emoção hospedeira que tremula a respeito da maior solidão por metro quadrado sobre que se noticiou. Era preciso dormência, dormência, três pontos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sobre um acontecimento faiscante

A todos é chegado o dia de uma calar de bocas triunfante. O dia em que se lhes pergunta a respeito da entre - intermitência de um punhado de luzes piscantes. O que pode um atravessamento? O que pode embrenhar-se por entre as pregas dos lábios a serem pintados, em câmera lenta de sensações? O que cabe a uma existência executar, se não o desejo patológico de que as coisas lhe invadam em velocidade tão flamejante a ponto de todos os corações se aproximarem rapidamente do fim. A vida são os tremores que se ouvem bem de perto dos alimentos triturados; de dentro do carnaval que se opera lá dentro. Há uma cachoeira rara que nos afoga, depois de que se superdimensiona o pingo da saliva passando. De dentro para fora, respiração é ventania. No meio, é chegado o lugar desde o qual se participam do conjunto das frestas, desde o qual se convertem em ponto máximo da congruência de todas as mensagens transmitidas. Em estado de alta captação, há antenas espalhadas para a linguagem de todos os transtornados; há torres aconchegantes para todas as percepções equivocadas, para todos os dizeres e mandares esquizóides, para tudo o que ainda não se pronunciou, mas que se deitará levemente sobre o dorso de um fio chocante. Aos olhos desapegados, se desvelará um enorme fragmento manchado que às suas decisões comprometerá. Há uma hipnose generalizada, uma nuvem emudecedora que aos menos sinestésicos acompanha, e que às torres cobre. Será preciso que um dentifrício enorme seja depositado sobre os ceguetas de coração firme até que a mácula seja sanada de suas visões, para que o contato que não se apalpa entre as conexões se estabeleça e que toda a ordem entre o intuito do estalar de dedos e o estalo de dedos seja necessariamente estabelecida. Uma faísca acontece.

sexta-feira, 4 de março de 2011

"O que é felicidade para você (...) ?"(In. Vanilla Sky)

Mas eu prometo que anteveria, se não houvesse me tornado cega, que a felicidade não mais passaria de um risco raso pronto para ser apagado. Um sopro débil de poucas bocas sopradas. Uma suscetibilidade só. Para que em um cabum inesperado tudo se desmoronasse em desistências e boicotes. Eu saberia do que estou falando agora, se isso não precisasse acontecer. É a convicção parruda que nos vence, que nos envaidece do contrário que já vitoriosos somos, é a convicção que nos come as plumas de pavão intempestivo. É o tiro curto laçado ao céu que nos derruba em queda livre rumo ao tempo das inabitações. Pois, na ausência de dedos viris, tudo se converte em pura felicidade de gatilhos indisparáveis.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A ventoinha e a queimação

Sua, sua o peito do passarinho. E o céu da boca se enrubesce, pois é noite de não-sei-quem, com que nenhum sedativo forte pode. Lembra daquela primeira condição imagética de meus olhos? Lembra de minha situação de transtornado? É como se um mar furioso os encobrisse e o mundo se cortasse em dois; dos meus ouvidos para dentro, dos meus ouvidos para fora. O meu pião que roda. O meu controle. É como se uma ventania os afastasse deliciosamente para longe de meus domínios. E se meu coração não fosse real? E se eu soubesse que se trata apenas do eco do impacto acontecendo? Não quisesse se embrenhar nos afagos, não quisesse encismar-se, mas tudo já estava sendo tecido pelas adagas triunfantes. Deixa estar um par de vísceras quadri-brilhantes do centro de meu rosto, de onde gotejam pingos flamejantes de alguma rendição. Deixa que eu voe sob as costas da vassoura e promova a varredura de tudo. Deixa que as garrafas tragam líquidos virais e os aplique no fundo daquelas sandices. Lembra quando se sentavam amadeirados e se rompiam cupinosos? É o castigo de acostumar-se a um leito só agarrado. É um pagamento de morte.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O word não pode salvar os olhos

Fosse uma piscadela. Mas eu pisquei. E no meio de um soslaio, meu engasgo sobrevive como se me engolisse em plenos pés de hipotensões. No meio do sopro, eu me agarrei. E na vaca voadora dos tornados, todas as sobrancelhas me olharam de sobressalto e arqueadas. Todos os flertes me traíram, me mentiram, e todos me estupraram em inverdades. E me disseram sobre histórias de que nunca me lembrarei e me transportaram para dentro dos umbigos. Convenceram-me de belezas e de carinhos. E eu perdi a dosagem dos colírios e dos receituários. Eu perdi o risco que relampeava, o resquício. Eu me contraí no intervalo da pulsação do meio. Minha missão é assim mesmo: um clichê passajoso. Eu sou isso; um bicho que pisca e perde a caça que se deixou piscar. E se lamenta de vicissitudes. E se esfaqueia na fumaça invernosa, como se pequenos estilhaços me perfurassem aos pingos. Eu fui vitimada pela falha. Pela ferida que se partiu no ponto fraco suturado. Bastasse um beijo breve dos cílios, e meu coração andara para fora do centro, e a tal ponto perdeu o sinal, se esvaiu. No olho do furacão da piscada, e tudo acabou depois do primeiro olho. Nada foi igual, eu vos odiei profundamente, eu vos devorei. Eu perdi o forte vínculo em outra íris. Uma sequela cega; um mar salgado em ardência. Eu não vejo mais aconchegos pepinosos. Eu não vejo mais sem lentes de contemplação. Miúdos, embaraçosos tufões se erguem. Não me deixasse piscar, e eu pisquei. Como que impreterivelmente se deseja fechar por duas pupilas a vida. E eu perdi o cometa que não passará diante dos olhos. E eu não o vejo.