segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A janela dos bipolares

O destino dos que existimos (existirmos, a que será que se destina?), mais do que uma sintática polêmica, é minha literatura de meditação mais corrente. Perguntemo-nos, pois, a cada um de nós e a nós mesmos a que será que nos destinamos em nossa miudez. Até que uma rebelião de inutilidades pelas quais somos constantemente motivados comece a borbulhar e nosso coração morra em morte de pura consciência. Até que nos matemos em tanta realidade. Mas afinal, Platão não quis ficar nas sombras da caverna, e nós, mais platônicos do que sabemos ser, quereremos? A que será que nos destinaremos? Foi no Baudelaire que ouvi em Caminhante Noturno, dos Mutantes que o evento e o sujeito discursivo consolidaram-se escritos ruivos, inquietantes. É como se houvesse uma conspiração de felinos em mim e eu necessitasse de expurgá-los, socializá-los. De dentro de mim, eles comem as cabeças uns dos outros: é o apocalipse, é o texto que nasce, é a meta. A que demônios cultuaremos legitimamente nossa pequenez? Para que estúpidos acontecimentos realizaremos rituais? Quem serão as pessoas de quem deveramos nos afastar? Pois elas tratarão, como que em tarefa santa, de abaixarem com drasticidade a nossa felicidade tão auto-sugestionável. O que não saberemos pequenos da vida? Aliás, o que sei um pouco é que a Schopenhauer só se seguem, quando estritamente solitários, ate um “não – outro”, pois inclusive “você não aqui” dói, uma ausência dói como se fosse uma presença. Como dói uma ausência, uma coisa que nem é, nem está, dói como se matasse. “Você não aqui” dilacera. Os afagos que não virão avassalam. São as relações em sua patética fervura. Dispensemo-nas com mesma fervura (ou não, provavelmente não). Qual será o grau de nossas “desinteligências”, qual serão suas categorizações? Pra onde iremos todos com nossos insignificantes ares pitorescos. Seu grau reside na nossa irresistível humanidade de humanos e nessa ânsia em dedicarmo-nos extremadamente ao que(m) quer que seja, e ao olharmos para trás sem que haja nada ou ninguém que houvesse sido fruto direto de nossa devoção, morremos; indignados, surpresos, “desinteligentes”, inábeis. É o dia de minhas literaturas. O dia das literaturas mais humanas. É quando a morte se achega na beira da janela alta, mas feito um engasgo na garganta, o pulo fica no ar dos desencorajosos ou desencorajados. Poucos sabem, mas é nesse viés de minha recém descoberta bipolaridade que muitos se matam. Ao invés de pular, eu escrevo. Ao invés de morrer, eu morro também.

3 comentários:

  1. muito reflexivc seus textos...adorei, ao acaso, ter entrado no seu blog, agora nao será mais ao acaso....bjs

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  2. A garota dos títulos inusitados! hehe
    Está aí mais um dos frutos da Literatura viva que é você! Belo fruto! Estou aqui a pensar em nossa medíocre humanidade, perguntando-me, talvez, o mesmo que você: a que será que destina nossa existência? Confesso que não sei uma resposta, mais pelo grau de 'dificuldade' da questão do que pelo grau de minha burrice (risos). Mas, ta aí! Gostei da metáfora: Talvez existirmos destina-se ao pulo da janela alta! Eu fico feliz que haja pessoas que, antes de pular, escrevem! Fico feliz por existir você!

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  3. Antes da aposta de Pascal, antes do salto Kierkegaardiano no absolutamente coração-outro (de Deus ou do Nada), acontece de haver um recuo, um hesitar, um distanciamento que se prepara e se destina a meta sem meta, sem metalinguagem que a explique... esse instante de recuo poderiamos muito bem batizá-lo de "O dia das literaturas mais humanas".

    Warley Souza

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